domingo, 3 de novembro de 2013

Com a palavra: LAURA DE MELLO E SOUZA.

PROFISSÃO FANTASMA
LAURA DE MELLO E SOUZA
Departamento de História, Universidade de São Paulo
Membro da Academia Brasileira de Ciências

Não existem historiadores, apesar de existirem várias profissões, algumas bem recentes, como as de bombeiros civis, mototaxistas, motoboys e turismólogos. Mas historiador não existe, pelo menos no Brasil.
Tal ausência não se deve, contudo, aos que pensam ser historiadores, e que ao longo da vida conseguiram iludir entidades de pesquisa e obter bolsas de estudo, trazendo contribuições relativamente significativas ao conhecimento histórico. O Brasil tem hoje uma das maiores comunidades científicas de estudiosos de história, como atestam congressos que recebem historiadores do mundo todo. Professores, pesquisadores e estudantes de história têm combatido nos últimos 45 anos para regulamentar o que pensam ser sua profissão. Nove projetos de lei entraram na Câmara dos Deputados nas últimas quatro décadas, caindo no esquecimento ou recebendo parecer negativo de parlamentares dos mais variados partidos políticos.
Em agosto de 2009, um senador encaminhou pela primeira vez proposta neste sentido ao Senado Federal, e aí a coisa caminhou. O projeto foi aprovado e encaminhado à apreciação da Câmara dos Deputados. Em julho último, em cartas à Câmara, duas importantes entidades científicas manifestaram-se contra o reconhecimento da profissão. Temem que disciplinas como história da medicina, história da ciência, história da biologia sejam sacrificadas quando oferecidas por docentes sem formação em história. Pedem maior discussão nacional sobre o assunto, o que alargaria os já 45 anos de espera dos aspirantes a historiador.
Parece ter faltado comunicação entre as partes, apesar do amplo debate sobre a questão nos últimos decênios, em fóruns variados. O que se defende é o reconhecimento da especificidade profissional, como ocorre com tantas outras áreas da pesquisa científica brasileira, sem que isso implique empecilhos ao livre ensino, discussão ou produção sobre a matéria da história.
A história é uma forma de conhecimento tão antiga e tão essencial que, com boa dose de ironia, o renomado historiador francês Paul Veyne escreveu: “Como tudo é história, a história não existe”. Conforme Marc Bloch (1886-1944), gigante da historiografia do século 20, “mesmo que a história fosse julgada incapaz de outros serviços, restaria dizer, a seu favor, que ela entretém”. Talvez esse aspecto às vezes jogue contra ela, levando a crer que lhe falte rigor ou método. Por isso, nunca é demais lembrar que de sua costela nasceram tantas formas de conhecimento hoje específicas que seria fastidioso enumerá-las. Parcela substantiva do método que serve ainda hoje às ciências humanas e exatas brotou da reflexão histórica de homens como Lorenzo Valla (1407-1457), que, no Renascimento, ensinou o modo de se ler um texto e mostrar sua falsificação, e os sábios seiscentistas, que polemizaram sobre a cronologia, os eventos citados na Bíblia e a idade das civilizações antigas. Uma forte corrente cética se desenvolveu a partir desses impasses, fornecendo seiva ao empirismo científico.
Amplitude e especificidade marcam concomitantemente a face da história. Se muitos podem contar histórias e até escrever sobre história, produzindo resultados interessantes, muito menos são os que podem refletir de modo consistente sobre a natureza do conhecimento histórico ou desenvolver pesquisa qualificada sobre os testemunhos deixados pelos humanos. Este é o campo exclusivo do historiador.
Trago à reflexão fato ocorrido na primeira semana de agosto: após gestão memorável no Arquivo Público do Estado de São Paulo, seu diretor, Carlos Bacellar, professor do Departamento de História da Universidade de São Paulo e autor de importantíssimos trabalhos de história do Brasil, foi demitido pelo governo estadual. Seu substituto é advogado e presidente do PSDB de Jacareí. Já entidades como o Museu de Astronomia e Ciências Afins (MAST), que servem às ciências ditas exatas, contam, como determinado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, com corpos de especialistas nas áreas respectivas para a escolha de seus diretores.


MAIS EM: http://cienciahoje.uol.com.br/colunas/em-tempo/por-um-olhar-do-historiador
CIÊNCIAHOJE | 302 | ABRIL 2013 | 39

O Movimento Hare Krishna no Brasil

Conforme o combinado com meus alunos escreverei aqui temas de interesse deles no que refere-se à História e matarei a curiosidade deles postando minhas atividades do final do Doutorado.
Segue em abaixo um link para um texto sobre o movimento Hare Krishna da Revista de Estudos da Religião (PUC-SP).
Aproveitem a leitura!